sábado, fevereiro 26, 2011
Arpad Szenes a Vieira da Silva
"Queria escrever um poema com o teu silêncio,
decifrar-te as sensações enquanto te massajo
o corpo com óleo de amêndoas doces,
escutar os desejos que circulam no teu sangue
sempre que das massagens passamos à mordedura,
ao beijo, ao corpo comparecendo ao corpo.
Nada de segredos sussurados ao ouvido.
Queria transformar cada gemido numa palavra,
num verso, e aprender a ler nos músculos
do teu rosto o prazer com que cada um de nós sente,
à sua maneira, a ferida que está na origem da beleza."
in:"A Dança das Feridas" - Henrique Manuel Bento Fialho - 2011
sexta-feira, fevereiro 25, 2011
Estranhas Criaturas
OPHIUCHUS
Já ninguém se indigna com o que quer que seja. Toda a gente tem perguntas a colocar, dúvidas a fazer, objecções a levantar. Não haja dúvida, porém, de que já ninguém se indigna com o que quer que seja.
Houve um tempo em que a indignação se confundia com a ignição, agora ela é apenas o recheio de um saco de tempo perdido. Talvez seja mesmo preferível uma metáfora, uma vestimenta distintiva, maquilhagem a condizer, compras no supermercado.
Há poetas que citam outros poetas e dizem indignar-me é o meu signo diário. Mas dizem isto com as mãos nos bolsos e os ombros encolhidos. Talvez tenham razão e eu esteja equivocado. Talvez seja preferível afundar a indignação no saco, aconchegar as costas ao conforto da poltrona e exercitar os dedos num teclado.
Façam-se weblogs, corredores por onde passear a maça inerte da nossa agonia. Afinal, teremos todos um ar muito respeitável à hora da nossa morte. E uma licenciatura também.
in Estranhas Criaturas, de Henrique Manuel Bento Fialho
sexta-feira, fevereiro 18, 2011
Pensamento do dia.....ou melhor, da noite!
Às vezes mais vale desistir do que insistir, esquecer do que querer, arrumar do que cultivar, anular do que desejar.
segunda-feira, fevereiro 14, 2011
domingo, fevereiro 13, 2011
Anda Vem
Anda vem..., porque te negas,
Carne morena, toda perfume?
Porque te calas,
Porque esmoreces,
Boca vermelha --- rosa de lume?
Se a luz do dia
Te cobre de pejo,
Esperemos a noite presos num beijo.
Dá-me o infinito gozo
De contigo adormecer
Devagarinho, sentindo
O aroma e o calor
Da tua carne, meu amor!
E ouve, mancebo alado:
Entrega-te, sê contente!
--- Nem todo o prazer
Tem vileza ou tem pecado!
Anda, vem!... Dá-me o teu corpo
Em troca dos meus desejos...
Tenho saudades da vida!
Tenho sede dos teus beijos!
António Botto
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