sábado, julho 03, 2010

Acho tão natural que não se pense

Acho tão natural que não se pense
Que me ponho a rir às vezes, sozinho,
Não sei bem de quê, mas é de qualquer coisa
Que tem que ver com haver gente que pensa...

Que pensará o meu muro da minha sombra?
Pergunto-me às vezes isto até dar por mim
A perguntar-me coisas. . .

E então desagrado-me, e incomodo-me
Como se desse por mim com um pé dormente. . .

Que pensará isto de aquilo?

Nada pensa nada.

Terá a terra consciência das pedras e plantas que tem?
Se ela a tiver, que a tenha...
Que me importa isso a mim?

Se eu pensasse nessas coisas,

Deixaria de ver as árvores e as plantas

E deixava de ver a Terra,
Para ver só os meus pensamentos ...
Entristecia e ficava às escuras.

E assim, sem pensar tenho a Terra e o Céu.



Alberto Caeiro

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